O drama musical e a ópera no século XIX - França

Combinando as influências de Gluck, da Revolução Francesa e do Império Napoleônico, Paris transforma-se na capital da Europa na primeira metade do século XIX, tendo-se desenvolvido, ali, um determinado tipo de ópera séria, de que é exemplo, “La Vestale” (A Vestal-1807) de Spontini.
O compositor, Gasparto Spontini (1774-1851) um italiano que se radicara em Paris em 1803 e veio, mais tarde, a partir de 1820, a fazer uma segunda carreira como diretor musical da corte de Berlim, era o músico preferido da imperatriz Josefina. Em “La Vestale”, Spontini conjugou o caráter heroico das últimas óperas de Gluck com uma forte tensão dramática dos enredos de libertação, exprimindo esta atmosfera num solene e aparatoso estilo solístico, coral e orquestral. Seus mais importantes confrades em Paris foram Étiene Nicolas Méhul (1763-1817) recordado pela ópera bíblica "Joseph" (1807) e Luigi Cherubini, cuja ópera "Le Deux Jounées" (Os Dois Dias - 1800) e em alemão, "Der Wasserträger" (O Aguadeiro), foi o modelo no qual se inspirou Beethoven para compor seu "Fidélio".
A partir de 1820, com a ascensão de uma classe média numerosa e mais influente, surge um novo tipo de ópera destinado a cativar o público que enchia os teatros de ópera. Os chefes desta escola da "grande ópera" foram o libretista Eugène Scribe (1791-1861), o compositor Giacomo Meyerbeer (1791-1864) e o diretor de ópera de Paris, Louís Véron (1798-1867). Duas óperas de Meyerbeer fixaram este estilo: "Robert, le Diable” (“Roberto, o Diabo” - 1831) e "Les Huguenots” (1836).
Desde o tempo de Lully, segundo a tendência dominante na França, a grande ópera dava tanta importância ao espetáculo como à música. Os libretos eram concebidos a explorar todas as oportunidades possíveis de introduzir bailados, coros e cenas de multidão. Meyerbeer tinha a capacidade para encenar multidões, cerimônias e confrontos públicos, como no caso das últimas cenas do ato II de "Les Huguenots".
Em meados de 1830, entre os compositores mais importantes, vale citar nomes como:
– Aubert com "La Muette de Portici", ("A Rapariga Muda de Portici" conhecida como "Masaniello” - 1828); – Rossini ("Guillaume Tell” - 1829); – Jacques Fromental Halévy (1799-1862) cuja obra "La Juive" (“A Judia” - 1835) sobreviveu às obras de Meyerbeer.
“La Juive” e “Guillaume Tell” são os melhores exemplos de “grande ópera” desse período.
Este ideal francês da grande ópera sobreviveu ao longo de todo o século XIX, vindo a influenciar as obras de Bellini (I Puritani), Verdi (Les Vêpres Siciliennes, Aída) e Wagner (Rienzi) sendo esta um perfeito exemplo de grande ópera. Determinadas características do gênero são, também, evidentes em algumas das suas obras mais tardias, como em "Tanhäuser", "Lohengrin" e "O Crepúsculo dos Deuses".
A tradição da grande ópera subsiste ainda no século XX em obras como "Christophe Colomb", de Milhaud, e "Antônio e Cleópatra" de Barker.
A par da grande ópera, na França, a ópera cômica prosseguiu durante o período romântico. A diferença técnica entre ambas era que na cômica utilizava-se o diálogo falado em vez do recitativo, tinha menos pretensões do que a grande ópera, menos cantores e instrumentistas e escrita numa linguagem musical mais simples. Em meados de 1860, surgiu em Paris, um novo gênero, a ópera bouffe (não confundir com a ópera buffa italiana do século XVIII), com especial ênfase aos elementos espirituosos e satíricos da ópera cômica. Seu fundador foi Jacques Offenbach (1819-1880) com "Orphée aux Enfers" (“Orfeu nos Infernos” - 1858) e "La Belle Hélène” (“A Bela Helena”). As obras de Offenbach influenciaram a evolução da ópera cômica em outros países como as operetas de Gilbert e Sullivan na Inglaterra (“The Mikado”, 1885) e as de uma escola vienense cujo representante é Johann Strauss, em "Die Fledermaus" (“O Morcego” - 1874).
Entre o meio caminho entre a ópera cômica e a grande ópera, surge a ópera lírica: são dramas ou fantasias românticas e as proporções são geralmente mais amplas do que as da ópera cômica, mas não tão majestosas como as da grande ópera típica. Entre elas está "Mignon" (1866) de Ambroise Thomas (1811-1896), mas, a mais famosa deste gênero é o "Fausto" de Gounod, estreado em 1859 como ópera cômica (com diálogo falado) tendo, o compositor, posteriormente, dado forma como hoje é conhecida. Entre outras obras cênicas de Gounod contam-se a ópera "Romeu e Julieta" (1867) e entre seus seguidores está Camille Saint-Saëns (1835-1921) com a ópera bíblica "Samson et Dalila" (1877).
Estreada em Paris em 1875, "Carmen" de George Bizet (1838-1875) foi um marco importante na história da ópera francesa. Tal qual a versão original de "Fausto", "Carmen" foi classificada como ópera cômica, porque continha diálogos falados (mais tarde musicados em recitativo por outro compositor). O fato da denominação “cômica” para este drama sombrio revela, pura e simplesmente, que nessa época a distinção entre ópera cômica passara a ser, apenas, de ordem técnica.